- Êpa, essa viagem foi muito rápida! - Tô com muito calor! Essa roupa laranja é um inferno. - C viu? Quase morreu. Foi um grande estouro. - Os portões da escolha foi aberto. Saiu um monte de gente de uma vez. Encavalou. - Frita pastel e coxinha Rute. - Vô leva esse pilantra no pau! Zé subiu no andaime. Maria chegou na casa de Andreia para cuidar do Pedrinho. Raimundo acabou desistindo de faltar ao trabalho. Laura faltou e comprou um atestado na praça 7. Ninguém aqui é vítima. Ninguém aqui sou eu.

terça-feira, 22 de abril de 2014

A seleção começa na escola

Charles

     Aldous Huxley escreveu o livro “Admirável Mundo Novo”, em 1932, onde o autor descreve uma sociedade em que a reprodução humana é artificial e os seres humanos são pré-condicionados biologicamente e condicionados psicologicamente, com o objetivo de viverem em uma sociedade harmoniosa. Outro ponto que se destaca nessa sociedade é que a função a se desempenhar em cada grupo social é estabelecida durante a produção biológica e o condicionamento psicológico, a fim de que também o mercado de trabalho seja ocupado por cada grupo produzido previamente.
      A obra de Huxley em vários pontos é extremamente atual, se a compararmos a sociedade brasileira. Ao tecer algumas palavras sobre a estrutura social brasileira, gostaria de fazer um paralelo com o livro de Huxley, pois existem algumas instituições em nosso país que realizam, querendo ou não, a função de preparar e condicionar as camadas sociais para atuarem de acordo com a demanda social vigente. Leia-se, uma verdadeira “seleção social”, preparando, ou despreparando, determinadas camadas sociais para desempenharem funções específicas. Vou me ater a instituição escolar brasileira, especificamente ao ensino público, uma vez que o papel desta tradicional instituição é a de formar cidadãos autônomos e idôneos para vida em sociedade.
      Como professor da rede pública de ensino, sempre me pergunto, que tipo de cidadão estou formando, pessoas autônomas ou analfabetos funcionais? Minha frustração vem à tona quando percebo que a segunda opção é a mais recorrente para a grande maioria dos meus alunos, posto que o corpo discente da escola pública brasileira é negligenciado pelo poder público em todas as suas esferas. Mas pasmem, o investimento geral em educação no Brasil se equiparou a países ricos como França e EUA a partir de 2010 e chegou à segunda colocação entre os países da América Latina, atrás apenas da Argentina, segundo a estudo realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Mas o estudo relata também que a maioria dos investimentos são destinados a educação superior, em relação ao ensino fundamental e médio. Não é necessário ser gênio para saber quem frequenta o ensino superior no Brasil, tão quanto o ensino público, fundamental e médio. Nem vou entrar no mérito da corrupção e utilização indevida desses recursos, a exemplo do Governo de Minas que desviou oito bilhões de reais da educação mineira nos últimos anos.
      Atualmente o modelo de escola pública padrão em nosso país, claramente forma mão de obra para trabalhar em funções sem complexidade ou que não exigem autonomia cognitiva elevada. Mas o que se esperar de uma instituição composta por muros, grades, cadeados, sirenes, uniformes... Lembrando uma fábrica! Ou de uma instituição que possui um currículo limitado e que limita. O currículo da escola púbica no Brasil possui dois pilares interessantes: formar cidadão e “prepara-los para o mercado de trabalho”. Preparar para o mercado de trabalho é consequência de uma educação de qualidade, onde o ser humano tem valor e é respeitado. No Brasil existem outros grupos que visam preparar para o mercado de trabalho, a exemplo do tráfico de drogas. Tirando os benefícios da CLT, cumprem a mesma função. A escola não deve ter só esse objetivo, deve ser mais complexa e maximizar o potencial humano para que possamos ter, verdadeiramente, uma sociedade composta por pessoas autônomas e não condicionadas e limitadas.

4 comentários:

  1. Gostei do texto, Charles. É o que se espera de uma sociedade para a qual o saber se tornou mercadoria e o valor de troca do conhecimento está incorporado à produção capitalista. Assim como e fácil ler "Admirável Mundo Novo" e identificar nossa sociedade, é fácil, também, ler "O Capital" de Marx e identificar o funcionamento da educação atual.

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  2. Nosso modelo de escola não forma nem mão de obra mais, meu velho... COm o mercado de trabalho encalacrado em todos os setores, não é nem interessante que os alunos sejam preparados pra ser mão-obra.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Muito bom texto Charles… Acho que dialoga em certa medida com István Mészáros, aconselho que leia o livro: A EDUCAÇÃO PARA ALÉM DO CAPITAL… o qual sugere uma boa discussão quanto a escola como meio de formação de trabalhadores para o contínuo giro do capital. Abss

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