- Êpa, essa viagem foi muito rápida! - Tô com muito calor! Essa roupa laranja é um inferno. - C viu? Quase morreu. Foi um grande estouro. - Os portões da escolha foi aberto. Saiu um monte de gente de uma vez. Encavalou. - Frita pastel e coxinha Rute. - Vô leva esse pilantra no pau! Zé subiu no andaime. Maria chegou na casa de Andreia para cuidar do Pedrinho. Raimundo acabou desistindo de faltar ao trabalho. Laura faltou e comprou um atestado na praça 7. Ninguém aqui é vítima. Ninguém aqui sou eu.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Incômodos Virtuais

Felipe Lena


Que vida estamos levando? Quais tipos de relações estamos construindo? Num mundo com as redes sociais cada vez mais presentes na nossa vida cotidiana, o ser humano continua a expressar sua podridão de maneira contundente. Fico me perguntando, tentando observar como as pessoas se portam no ambiente público e no ambiente privado. Na rede social (ambiente público) a pessoa fala para centenas de pessoas (amigos, família, conhecidos, colegas de trabalho, etc.). Nesse aspecto, a rede social funciona como um palco e um microfone diante de uma plateia amorfa e heterogênea. Um traço que me salta aos olhos diante do comportamento das pessoas nas redes sociais é que de alguma maneira elas não veem nenhum problema em desabafarem, fazerem confissões, esbravejarem suas verdades, falarem dos seus sentimentos mais íntimos para sua plateia pessoal. Na verdade, parece que existe uma necessidade crônica das pessoas afirmarem quem elas são e o quanto o estilo de vida delas é superior, dentre outras coisas do tipo. Não sei se isso vem de um narcisismo crônico da nossa geração ou se é simplesmente a podridão humana sendo explicitada. O curioso é que não encontro esses mesmos comportamentos no ambiente privado. Quando encontramos as pessoas na vida real, elas parecem não se expressarem da mesma maneira que no ambiente virtual. Existe um descompasso aí.  Ao mesmo tempo as redes sociais me fazem sentir o tempo pesar... Entra ano e sai ano e as pessoas, de forma quase hipnótica, festejam e celebram as mesmas datas comemorativas que o calendário virtual avisa. Me lembra Sísifo empurrando a rocha morro acima e depois rolando-a morro abaixo. Qual o propósito disso tudo? Lembro-me de quando era mais novo, quando via pessoas sentadas na porta de casa, jogando conversa fora, descansando ao ar livre depois de um dia cansativo de trabalho. Via crianças na rua jogando bola, soltando papagaio, brincando de polícia e ladrão. Hoje em dia só vejo carros nas ruas. E as pessoas parecem zumbis com o celular o tempo inteiro na mão. Fico me perguntando: quais serão os reflexos desses comportamentos virtuais e reais nas próximas gerações. Qual futuro nos aguarda? Sou pessimista nesse aspecto. Não vejo o mundo melhorando. Acho que o mundo como está precisa entrar em colapso. Reformas não mudam muita coisa, rupturas sim. Porém, infelizmente, acho que estamos completamente imersos neste modo de vida, e não vejo como rupturas acontecerem no meu tempo de vida. É engraçado pois o nosso tempo de vida é muito curto, e mesmo assim não saímos do nosso caminho para transformar as coisas, estamos conformados. Continuamos vivendo nossas vidas patéticas, vivendo a ilusão de que estamos mudando as coisas. Talvez, no fim das contas, o ser humano só precise de ilusões.

3 comentários:

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  2. Meu caro, vou ser bem sincero, seu texto me deixou desanimado, ainda mais. Logicamente não foi pelo conteúdo, diga-se de passagem de extrema qualidade, mas por traduzir o muito do que penso e presencio na prática. Essa Copa do mundo tem sido um grande soco no meu estômago.
    O individualismo crescente é inacreditável, as redes sociais potencializaram a “ilha” que costumamos denominar indivíduo, e como nossa juventude é cooptada e por processo. Parece que a humanidade transita para uma realidade ficcional. O celular é hipnótico.
    O que me apavora e me deixa indignado é o sistema criado para controlar essas socialização virtual, por exemplo as propagandas em sua página, elas mudam de acordo com o que você acessa em outras páginas. “Eles” sabem o que você acessa e usam isso, (governos, redes de empresas, aparato militar, etc.). A sociedade virtual é controlada e vigiada.
    Em suma, e o reflexo de tudo isso na prática, realmente é de dar medo!

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  3. Realmente, a realidade atual não dá qq esperança para dias melhores :-(

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