- Êpa, essa viagem foi muito rápida! - Tô com muito calor! Essa roupa laranja é um inferno. - C viu? Quase morreu. Foi um grande estouro. - Os portões da escolha foi aberto. Saiu um monte de gente de uma vez. Encavalou. - Frita pastel e coxinha Rute. - Vô leva esse pilantra no pau! Zé subiu no andaime. Maria chegou na casa de Andreia para cuidar do Pedrinho. Raimundo acabou desistindo de faltar ao trabalho. Laura faltou e comprou um atestado na praça 7. Ninguém aqui é vítima. Ninguém aqui sou eu.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Por uma Virada

Tiago

Neste último fim de semana, como bom belo horizontino estudante da UFMG, eu estive na segunda virada cultural da cidade. Não fui à primeira virada, ocorrida no ano passado, e estava curioso para conhecer o evento, copiado da cidade de São Paulo.
Noite de sábado, centrão cheio, movimentado, o clima estava bom. Gentes de muitos (não de todos) lugares caminhando por aí, a esmo ou na direção de alguma atração previamente selecionada. Ocupada, lotada, ao sabor da cerveja, do vinho ou da catuaba, a cidade desmarcava encontros, inventava desencontros. Estava viva, boa.
A programação da virada era extensa, variada, contava com artes de quase todas as formas. Teatro, música, cinema, exposições, enfim, Cultura – de forma geral, com C maiúsculo mesmo. No âmbito musical, sambistas, roqueiros, amantes da MPB, do rap, e de Tom Zé foram considerados.
            Não fui a muitos lugares. Esperando dar uma olhada no Toquinho, passei com alguns amigos no parque municipal. Decepção. Um dos lugares mais importantes da cidade de Belo Horizonte tinha o tráfego controlado naquela noite, a entrada era possível apenas por duas portarias, e todos os que ali queriam entrar eram submetidos à revista dos seguranças. Lá dentro, nada de vendedores ambulantes, apenas cervejas e comidas autorizadas – assim como as pessoas.
Estive no Rap, debaixo do viaduto Santa Tereza; fui ao show do Tom Zé, na avenida guaicurus; no ótimo Samba da Meia Noite; na Noite Cubana da praça sete; e já de madrugada voltei ao parque, haveria show de “Todos os Caetanos do mundo”. Não conhecia a banda, nem seu público. A banda era boa, porém, nenhuma novidade, os caetanos contemplados eram os mesmos de sempre.
            Caminhando por estes lugares tive a mesma impressão que tenho do carnaval belo-horizontino e de boa parte dos eventos que ocorrem na região central de Belo Horizonte, de que “a Virada” também é majoritariamente branca. Feita (pela e) para a classe média da cidade. Sua programação recebe principalmente atrações “Culturais”.
Admito que minha crítica não é exatamente aprofundada. Como já disse, eu não estive em todos os lugares, não estou por dentro dos melindres que envolvem a produção destes eventos, e por isso mesmo quero registrar que ouvi de uma amiga que a virada deste ano abriu espaços a apresentações de grupos independentes. Para ela, nesse sentido há um notável avanço em relação ao ano passado. O que gostei de ouvir. Entretanto, mesmo não tendo ido ao evento do ano passado, não temo dizer que o movimento foi insuficiente.
            Sua programação segue pautada por uma ideia de alta cultura, o que pode ser visto na escolha dos shows, sem nenhum grupo de Pagode, Axé ou Funk. Assim como nos lugares escolhidos para receber alguns eventos, Palácio das Artes, Praça da Liberdade, Academia Mineira de Letras, Sesc Paladium, Parque Municipal.
Além disso, brinca-se pouco com a cidade. Penso que um evento desse porte é uma ótima oportunidade para diminuir distâncias, desconstruir estereótipos, arriscar outros usos de seus espaços e equipamentos. Por que não retirar os carros do grande centro, alocar atrações também em áreas da cidade consideradas distantes, valorizando seus moradores e promovendo a circulação, a possibilidades de novas experiências, novos encontros. Metrô e ônibus gratuitos poderiam promover o acesso à uma virada (verdadeiramente) cultural e (efetivamente) Da Cidade.
Outra possibilidade seria aproveitar eventos que já ocorrem normalmente na cidade e integra-lo ao circuito da virada, como o Baile Funk das quadras da Vilarinho, que poderia ter uma edição gratuita no fim de semana da virada. Ônibus gratuitos partiriam de vários lugares, atendendo os que estivessem dispostos a conhecê-lo. De outro modo, por que não colocar ônibus gratuitos no sentido contrário, promovendo o acesso ao circuito cultural da praça da liberdade (outra cultura com C maiúsculo), partindo sobretudo dos lugares mais distantes.

            Acho a virada uma excelente ideia. Torço para que seja valorizada e que continue a existir. Afinal, para uma cidade que há pouco tempo lutava pelo direito de usar a praça da estação, um evento como este é fantástico. Contudo, para uma Virada efetivamente Da Cidade, muito mais gente ainda precisa ser convidada pra essa festa.

Um comentário:

  1. Realmente foi cultura seletiva. Passei na rua Araão Reis perto da Praça da Estação, havia um palco pequeno: "solte a voz" e um pessoal estava mandando vê no Funk à capela e começou a encher de gente dançando! Mas quando passei por lá na volta um cara (da organização do evento, talvez) tirou o microfone de lá. Sem graça.

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